Conferência de Abertura


Neste ano a mesa de abertura dos XIX Encontro Nacional de Pesquisa em Filosofia da UFU, X Encontro de Pós-Graduação em Filosofia da UFU e VIII Encontro de Pesquisa em Filosofia do Ensino Médio contará com a mesa de abertura os professores Diogo César Porto da Silva com a conferência "Tosaka Jun e Miki Kiyoshi: Cultura em Tempos de Guerra" e Antonio Florentino Neto com a conferência "A filosofia budista de Kitarō Nishida e o nacionalismo japonês", essa mesa acontecerá dia 21 de julho de 2025 às 19 horas no auditório do Bloco 5S do Campus Santa Mônica da Universidade Federal de Uberlândia.


A filosofia budista de Kitarō Nishida e o nacionalismo japonês

Antonio Florentino Neto
PPGCS - Brasil China – Unicamp


        Assim como o pensamento de Martin Heidegger foi amplamente marginalizado no pós-Segunda Guerra Mundial devido ao seu vínculo com o regime nazista, a filosofia da Escola de Kyoto também enfrentou intensa crítica e quase desapareceu dos círculos acadêmicos japoneses em virtude do envolvimento de seus integrantes — sobretudo Kitarō Nishida — com o projeto nacionalista japonês durante a Guerra do Pacífico (1931-1945), conflito marcado pelo desfecho trágico dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki. No entanto, a relação entre os membros da Escola de Kyoto e o militarismo japonês deve ser analisada em suas múltiplas dimensões, sendo difícil compreendê-la a partir dos fundamentos filosóficos da própria Escola, os quais, em minha perspectiva, estão profundamente enraizados no Budismo Huayan.
        Abordarei, em primeiro lugar, as divergências internas do militarismo japonês e as distintas posturas adotadas pelos principais pensadores da Escola de Kyoto. Em segundo lugar, examinarei os princípios do Budismo Huayan, buscando elucidar possíveis conexões entre a filosofia da Escola de Kyoto e o nacionalismo japonês. Por meio dessa análise, pretendo contribuir para um debate mais nuançado sobre o tema, evitando reducionismos e destacando a complexidade histórica e filosófica que o permeia.




Tosaka Jun e Miki Kiyoshi: Cultura em Tempos de Guerra

Diogo César Porto da Silva
Departamento de Letras Orientais - FFLCH - USP


        O ano de 1945 (ano 20 de Shōwa pelo calendário japonês) foi um ano catastrófico para o país: ao lado da derrota na Guerra e a destruição das cidades de Hiroshima e Nagasaki com a detonação das bombas atômicas americanas, nesse mesmo ano, morrem três das maiores figuras da filosofia japonesa moderna, Nishida Kitarō (1870 – 1945), Tosaka Jun (1900 – 1945) e Miki Kiyoshi (1987 – 1945).
          Nenhum deles teve a chance de refletir sobre as consequências filosóficas das armas atômicas e nem os grandes nomes da filosofia japonesa que sobreviveram à guerra, como Tanabe Hajime (1885 – 1962) e Nishitani Keiji (1900 – 1990), teceram considerações acerca desse episódio que marcou a história japonesa e mundial. Encontra-se aí um dos “Silêncios sobre Hiroshima e Nagasaki”, um silêncio filosófico.
        Silêncio esse que poderia ter sido quebrado por Tosaka e Miki caso não tivessem tido suas vozes silenciadas pelo regime imperial japonês que os assassinaram em suas prisões.
Neste ano em que se relembra os 80 anos da destruição de Hiroshima e Nagasaki, é propício também trazer de volta a memória de Tosaka e Miki, filósofos japoneses ainda pouco conhecidos no Brasil, através de um tópico que lhes era caro: a cultura.
        Em um texto intitulado “O que é a crise da cultura?” (文化の危機とは何か; Bunka no Kiki towa Nanika), de 1936, Tosaka traça a gênesis filosófica do conceito de cultura a partir do idealismo alemão, demonstrando seu uso político pelo nazismo e, depois, pelas políticas culturais do Japão da década de 1930. O que o leva a considerar que a crise da cultura se trata de uma ação política de rebaixamento do pensamento.
        Por sua vez, Miki, em 1941, apresenta um texto cujo título é “Ciência e Cultura” (科学と文化; Kagaku to Bunka), no qual argumenta que a cultura passou a ser o norte dos esforços intelectuais do Japão em meados da década de 1920, em detrimento da civilização. Contudo, a associação equivocada feita entre civilização e ciência, e entre esta e técnica, retirou do conceito de cultura seu caráter científico, isto é, seu fundamento no método demonstrativo. Seu intento é mostrar a necessidade da cientificidade para que a cultura japonesa possa se desfazer de ideologias que a mistificam.